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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Os filhos esquecerão…


“O tempo, pouco a pouco, me libertará da extenuante fadiga de ter filhos pequenos, das noites sem dormir e dos dias sem repouso. Das mãos gordinhas que não param de me agarrar, que me escalam pelas costas, que me pegam, que me buscam sem cuidados, nem vacilos. Do peso que enche os meus braços e curva as minhas costas. Das vezes que me chamam e não permitem atrasos nem esperas.

O tempo me devolverá a folga aos domingos e as chamadas sem interrupções, o privilégio e o medo da solidão. Acelerará, talvez, o peso da responsabilidade que às vezes me aperta o diafragma. O tempo, certamente e inexoravelmente esfriará outra vez a minha cama, que agora está aquecida de corpos pequenos e respirações rápidas. Esvaziará os olhos de meus filhos, que agora transbordam de um amor poderoso e incontrolável. Tirará dos seus lábios o meu nome gritado e cantado, chorado e pronunciado cem mil vezes ao dia.

Cancelará, pouco a pouco, ou de repente, a confiança absoluta que nos faz um corpo único, com o mesmo cheiro, acostumados a mesclar os nossos estados de ânimo, o espaço, o ar que respiramos.

Como um rio que escava seu leito, o tempo perigará a confiança que os seus olhos têm em mim, como ser omnipotente, capaz de parar o vento e acalmar o mar, consertar o inconsertável e curar o incurável. Deixarão de me pedir ajuda, porque já não acreditarão mais que em algum caso eu possa salvá-los. Pararão de me imitar, porque não desejarão parecer-se muito a mim. Deixarão de preferir a minha companhia em comparação com os demais (e vejo, isto tem que acontecer!).

Esfumar-se-ão as paixões, as birras e os ciúmes, o amor e o medo. Apagar-se-ão os ecos das risadas e das canções, as sonecas e os “era uma vez”… Com o passar do tempo, os meus filhos descobrirão que tenho muitos defeitos, e se eu tiver sorte, perdoar-me-ão por alguns deles.

Eles esquecerão, mas ainda assim eu não esquecerei.
As cocegazinhas e os “corre-corre”, os beijos nos olhos e os choros que de repente param com um abraço, as viagens e as brincadeiras, as caminhadas e a febre alta, as festas, as papinhas, as carícias enquanto adormecíamos lentamente.

Meus filhos esquecerão que os amamentei, que os balancei durante horas, que os levei nos braços e às vezes pela mão. Que dei de comer e consolei, que os levantei depois de cem caídas. Esquecerão que dormiram sobre o meu peito de dia e de noite, que houve um dia que me necessitaram tanto, como o ar que respiravam.

Esquecerão, porque é assim mesmo, porque isto é o que o tempo escolhe. E eu, eu terei que aprender a lembrá-los de tudo, com ternura e sem arrependimentos, incondicionalmente.

E que o tempo, astuto e indiferente, seja amável com estes pais que não querem esquecer.”


(Silvana Santo – Una Mamma Green)



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2 comentários:

Anónimo disse...

Impossível não emocionar-se com palavras que traduzem todo o amor e dedicação de uma mãe para com seus filhos.Lindo demais.

Unknown disse...

É verdade Déia … as palavras que descrevem o amor de uma mãe são sempre emocionantes.

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